sábado, 4 de março de 2017


   Eugénio de Castro faz hoje 148 anos.

CARTA


Se quero? Quero, sim, e vem depressa!
Esta casa estará cheia de flores!
Cá te espero amanhã! Não te demores!
Vem cedinho, vem logo que amanheça!

Não te via há dez anos! Recomeça
O meu céu negro a encher-se de esplendores!
O pior é que o tempo e os dissabores
Já semearam cãs nesta cabeça…

Vais estranhar-me, creio… Tu decerto
És hoje o que eras, conservando ainda
As mesmas tranças fartas e castanhas…

Tremo, de ti julgando-me já perto…
Como tu eras, há dez anos, linda!
Não mudaste, pois não?... Olha… não venhas!

Eugénio de Castro, 1938: Últimos Versos.
[Ed. consultada: Eugénio de Castro, 1987: Antologia  (Introdução, selecção e bibliografia
de Albano Martins). Lisboa: IN-CM; p. 279.]

Para recordar e/ou ler e/ou ser (mais) informado:

«[…] Artista superior, porventura o mais requintado de toda a poesia portuguesa, é esse um título que não pode, em boa verdade, recusar-se a Eugénio de Castro. E se não se detectam, na sua poesia, os dramas pungentes – individuais ou colectivos -, as angústias metafísicas, as preocupações sociais e as nevroses que alimentam a obra de alguns poetas seus contemporâneos e outros de gerações posteriores, não significa isso que não seja ele capaz de perante a vida e o mundo se emocionar. […]»
Albano MARTINS, 1987: «Introdução».
Em Eugénio de Castro, 1987: 10.

NB1 - As fotografias do Poeta foram colhidas em Google+ / Imagens / Eugénio de Castro.
NB2 - Respeitadas grafia a pontuação da edição consultada.

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